A pedido do Lendo e Relendo o Prof. Celso
Vasconcellos que esteve no 7º Congresso de Educação da Região Serrana escreve
sobre a atualidade vivida nas escolas e o que a escola pode fazer para mudar
tal situação.
Prof. Celso dos S. Vasconcellos
A escola, no seu modelo predominante,
está em colapso. Indisciplina, violência, baixíssima aprendizagem, evasão,
repetência, absentismo, abandono do magistério, são alguns dos sintomas. O
problema é que, diante disto, as “soluções” apresentadas, de um modo geral, são
“mais do mesmo”: aumentar número de dias letivos, aumentar tempo de permanência
do aluno na escola, voltar a reprovar (em redes que já tinham avançado para
Ciclos), fazer lei para “enquadrar” aluno que desrespeita o professor, usar
computador para se fazer o mesmo que se vem fazendo há séculos na sala de aula,
etc. Não queremos passar uma visão pessimista: existem práticas efetivamente
inovadoras acontecendo em escolas. No entanto, estas escolas sofrem uma pressão
muito grande para se enquadrarem novamente no esquema e, com isto, muitas
experiências acabam sendo efêmeras (é raro passarem de 5 anos).
Ao mesmo tempo, a escola tem uma enorme
importância, a começar por sua faceta mais evidente: atualmente, a quase
totalidade das crianças de 6 a 14 anos está nesta instituição! Notem bem: todas
as crianças, por anos, e numa fase importantíssima da formação de suas
personalidades. Tal fato não nos autoriza a ficar numa postura derrotista,
pessimista, demissionária. É preciso reinventá-la, e isto certamente passa por
revolucionar o currículo.
Há no meio educacional uma visão
restrita que entende currículo (do latim curriculum, carreira, curso,
percurso, lugar onde se corre, campo) como o conjunto de matérias (“grade”),
programas, lista de conteúdos (que o professor “tem que” dar); esta compreensão
revela, de imediato e do ponto de vista político, a alienação, o estranhamento
e a dicotomia entre a esfera de decisão e a de execução. Tais dispositivos
podem fazer parte, mas não esgotam absolutamente a concepção de currículo.
Assumimos uma visão ampliada, integral de currículo como projeto de formação.
Projeto aqui entendido na perspectiva dialética-libertadora que demanda a
elaboração e a realização interativa (intenção
e realidade), e não simplesmente redação de documentos. Nesta linha,
portanto, currículo abarca o conjunto de formulações
(representações, saberes, programas, disciplinas, estruturas, formas de
organização) e de experiências
(atividades, práticas, vivências) propiciado pela instituição de ensino para a
formação dos sujeitos (educandos, mas também educadores e comunidade), de
acordo com as grandes finalidades que se propõe (expressas no Projeto
Político-Pedagógico). Trata-se, assim, da organização de saberes, pessoas e
recursos no espaço e no tempo da escola, tendo em vista objetivos, e
acompanhada por avaliação. Num currículo que assume a Atividade Humana como
Princípio Educativo não há dicotomia, mas, pelo contrário, profunda articulação
entre a proposta curricular da escola e os currículos pessoais de educandos e
educadores (Vasconcellos, 2011).
VASCONCELLOS,
Celso dos S. Currículo: A Atividade
Humana como Princípio Educativo, 3ª ed. São Paulo: Libertad, 2011.
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