Escola deveria ser
garagem
Pensar em modelos de educação que inovem
ironicamente não é uma novidade. A morte do currículo foi decretada
cinicamente algumas vezes – o paradigma de não seccionar o conhecimento em
áreas de conhecimento chega a ser um discurso cansativo, proferido por
quem acredita em uma “educação contemporânea”.
O fato é que o mundo da educação padece
por ser formado em sua maioria por pensadores, e não executores. Mudar um
sistema de ensino é muito complexo; realizar experiências pontuais – construir
escolas ideais - que sirvam de exemplo e instiguem mudanças maiores, não
tanto. Mesmo assim educadores preferem elaborar teorias a realizar experiências
e correr riscos.
Há
alguns dias fui provocado por dois jovens e inteligentes documentaristas,
Antonio Lovato e Raul Perez, a dar um depoimento sobre “a escola que
considero ideal”. Nunca havia pensado de forma totalmente onírica e livre sobre
esse tema, então coloquei minha mente para rodar antes da câmera ser ligada.
Viajei muito no Brasil e no mundo para
conhecer escolas; ouvi outras tantas de amigos. Nesse meu fluxo de pensamento
interno me lembrei dos laboratórios do MIT (Massachusetts Institute of
Technology), do Schumacher College, da Escola da Ponte, da Cidade Escola
Aprendiz, de uma escola dinamarquesa relatada pelo Rubem Alves, em que
estudantes aprendiam a construir uma casa e também da Oregon Episcopal School,
a OPS, que me encantou.
Todos os exemplos têm elementos em comum:
ignoram o currículo, pois trabalham por projetos – teoria que data dos anos 40.
E todas são idealizadas e coordenadas por educadores fora dessa cátedra.
Antes
de dar a reposta cara a cara com os dois cineastas, pensei, muito
centralmente, nas minhas experiências com jovens produzindo comunicação –
como o Idade Mídia, do Colégio Bandeirantes. Vivências em que os estudantes se
apropriam do espaço escolar e aprendem muito mais assim: quando sua expressão
surge no universo do aprendizado; e quando são estimulados a acreditar na sua
capacidade de realização de um projeto – no caso uma revista ou um
documentário.
Mas quando comecei a falar, quis dar um
passo atrás do meu sonho de escola educomunicativa para ser mais desamarrado de
conceitos, e procurei achar pontos em comum a todas elas. E percebi: são
experiências de e para “garagens”.
Me lembrei daquelas garagens de casas
antigas, onde se acumulam bugigangas, mas há sempre uma mesa para se sentar e
organizar as ideias. Portanto, cheguei a conclusão que minha escola ideal
assemelha-se a uma garagem. Dessas mesmo onde as crianças têm a tentação
de montar robôs com peças velhas.
Lá, o foco está na criação e inovação do
estudante. O professor é um tutor que circula entre os objetos, orienta as
criações e aprende muito também. Um tablet conectado à internet seria o
material básico. Os produtos lá desenvolvidos trariam um pouco de cada
disciplina.
Quando terminei a entrevista, tive a
estranha sensação de ter vivido essa atmosfera de garagem, na maioria das
vezes, em ambientes educomunicativos. Fui induzido a pensar na comunicação
novamente. Muito porque ela está no DNA do estudante antes mesmo da
escolarização chegar. Este é seu ponto mais forte – joga a favor do estudante.
A garagem tem um apelo tão forte para a
educação que, se nenhum projeto for capaz de brotar daquele ambiente, ainda é
possível vender limonada (como fazem os norte-americanos) ou montar uma banda
de rock (como faz qualquer jovem). O que, em ultima instância, são também
projetos.
Divulgação do Autor |
Alexandre Le Voci
Sayad,
36, é jornalista e educador.
Diretor social da plataforma MyFunCity e secretário executivo da Rede CEP (Rede de Experiências em Educação, Comunicação e Participação). É também coordenador de projetos e consultor dos colégios Bandeirantes, Lourenço Castanho e Gracinha. É consultor na área de investimento social de empresas e projetos sociais, como o Instituto Claro, B.I International e o Instituto Criar. Escreve como articulista no Portal Aprendiz e artigos em A Gazeta do Povo e O Estado de S.Paulo (Estadao.edu). É coordenador do programa Open City, em parceria com a Universidade de Harvard, MIT e Colégio Bandeirantes. Foi por sete anos coordenador de educação e mídia da organização Cidade Escola Aprendiz. Editou de publicações específicas na área de educação, como para as editoras Abril, Nova Cultural e Segmento, além do portal Compuserve no Brasil. Foi colunista da Rádio Brasil 2000 FM. Edita livros na área de educação. É autor do livro “Idade Mídia: A Comunicação Reinventada na Escola”, de (Editora Aleph/ 2012). É membro da agência REPENSE, como "Repensador" na área de educação.
Diretor social da plataforma MyFunCity e secretário executivo da Rede CEP (Rede de Experiências em Educação, Comunicação e Participação). É também coordenador de projetos e consultor dos colégios Bandeirantes, Lourenço Castanho e Gracinha. É consultor na área de investimento social de empresas e projetos sociais, como o Instituto Claro, B.I International e o Instituto Criar. Escreve como articulista no Portal Aprendiz e artigos em A Gazeta do Povo e O Estado de S.Paulo (Estadao.edu). É coordenador do programa Open City, em parceria com a Universidade de Harvard, MIT e Colégio Bandeirantes. Foi por sete anos coordenador de educação e mídia da organização Cidade Escola Aprendiz. Editou de publicações específicas na área de educação, como para as editoras Abril, Nova Cultural e Segmento, além do portal Compuserve no Brasil. Foi colunista da Rádio Brasil 2000 FM. Edita livros na área de educação. É autor do livro “Idade Mídia: A Comunicação Reinventada na Escola”, de (Editora Aleph/ 2012). É membro da agência REPENSE, como "Repensador" na área de educação.
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