sexta-feira, 9 de novembro de 2012

"A influência da música na aprendizagem"


Consideramos que a música pode constituir um meio integrador, motivador e facilitador do processo ensino/aprendizagem, por relacionar-se a aspectos emocionais, cognitivos e sociais.
               Em relação aos aspectos emocionais, observamos que a vivência dos elementos sonoros proporcionada pelos atos musicais se constitui numa oportunidade de aprender e inventar para si e para o mundo tramas sonoras cada vez mais harmônicas. Ao perceber sonoridades diversas em seu corpo, ao explorar sons ao seu redor, ao manipular sonoridades de acordo com seu gosto e sua curiosidade, o aluno aprendiz descobre em si próprio potencialidades adormecidas aumentando sua estima.
                O tocar e o ouvir um instrumento, bem como a voz que fala, canta, imita, inventa, e movimenta-se no corpo e no ambiente são elementos de aprendizagem, de criação e ação que motivam e ativam a expressão, favorecendo as relações de aprendizagem, sobretudo no que tange à autonomia de aprender.
               Através das performances musicais, o aluno atua como ouvinte e executor aproximando realidades e reinventando sentidos que, por sua vez, farão ressonância com o seu modo de viver e de estar no mundo.  
                Com relação aos aspectos cognitivos, estudos no campo das neurociências relatam as áreas cerebrais ativadas por meio das músicas. Hoje já se tem conhecimento, por exemplo, de que as atividades musicais relacionadas à produção, execução e audição, se concentram tanto no hemisfério direito do cérebro (percepção musical) quanto no hemisfério esquerdo (consciência do processo sonoro). Os dois hemisférios, assim integrados, aumentam as áreas do conhecimento por ativarem tanto a sensibilidade perceptiva, como o uso da racionalidade.
Além disso, por meio da análise de ressonâncias magnéticas, ficamos sabendo que a música afeta a Área de Wernicke, importante para o vocabulário da fala, a Área de Broca que está relacionada à compreensão gramatical das frases, o tronco cerebral, que ajuda a localizar o som no espaço e o cerebelo, área fundamental para a coordenação motora que trabalha na interpretação do ritmo de uma canção. Por todas essas relações, podemos dizer que o aprendizado musical proporciona importante desenvolvimento na plasticidade neurológica que pode potencializar a capacidade de aprender e relacionar conhecimentos novos.
               Quanto aos aspectos sociais, teóricos da área da educação afirmam que todos nós precisamos do outro para nos reconhecer como nós mesmos, de forma diferenciada e autônoma.  Por isso, a dimensão social é fundamental no acolhimento do aluno aprendiz, pois trabalha com questões como identidade e pertenciamento, essenciais no processo de aprendizagem de uma forma geral. Especificamente no ensino da música, sabemos que os significados sociais são construídos a partir do uso da música em determinados contextos, práticas ou fatores associados à experiência musical e, por isso, os diversos contextos sociais devem ser valorizados como elementos de aprendizagem.
               Fazer música tem a ver com identidade, com desenvolvimento de potencialidades, com criação e invenção, com o encontro com o outro, com sabores de vida e de amores
               O ensino de música, por ensejar as dimensões emocional, cognitiva e social, envolve muito mais do que conhecer a teoria da música, com todos os seus princípios e regras. A sua influência na aprendizagem, pelo que se sabe até hoje, é sobremaneira ímpar.

              


Márcia Victório de Araújo Costa
Graduada em Música e Psicologia, Mestre em Educação Musical e Doutora em Ciências da Educação, professora regente de Educação Musical do Colégio Pedro II, Rio de Janeiro (RJ). Autora do livro ‘Impressões Sonoras – música em arteterapia’ (WAK editora, 2008) e do livro ‘O Bê-a-bá do Dó-ré-mi – Reflexões e Práticas sobre a educação musical em escolas de ensino básica’ (WAK editora, 2011).

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