Consideramos
que a música pode constituir um meio integrador, motivador e facilitador do
processo ensino/aprendizagem, por relacionar-se a aspectos emocionais,
cognitivos e sociais.
Em relação aos
aspectos emocionais, observamos que a vivência dos
elementos sonoros proporcionada pelos atos musicais se constitui numa
oportunidade de aprender e inventar para si e para o mundo tramas sonoras cada
vez mais harmônicas. Ao perceber sonoridades diversas em seu corpo, ao explorar
sons ao seu redor, ao manipular sonoridades de acordo com seu gosto e sua
curiosidade, o aluno aprendiz descobre em si próprio potencialidades
adormecidas aumentando sua estima.
O tocar e o ouvir
um instrumento, bem como a voz que fala, canta, imita, inventa, e movimenta-se
no corpo e no ambiente são elementos de aprendizagem, de criação e ação que
motivam e ativam a expressão, favorecendo as relações de aprendizagem,
sobretudo no que tange à autonomia de aprender.
Através das performances musicais, o aluno atua como ouvinte e executor
aproximando realidades e reinventando sentidos que, por sua vez, farão
ressonância com o seu modo de viver e de estar no mundo.
Com
relação aos aspectos cognitivos, estudos no campo das neurociências relatam as
áreas cerebrais ativadas por meio das músicas. Hoje já se tem conhecimento, por
exemplo, de que as atividades musicais relacionadas à produção, execução e
audição, se concentram tanto no hemisfério direito do cérebro (percepção
musical) quanto no hemisfério esquerdo (consciência do processo sonoro). Os
dois hemisférios, assim integrados, aumentam as áreas do conhecimento por
ativarem tanto a sensibilidade perceptiva, como o uso da racionalidade.
Além disso, por
meio da análise de ressonâncias magnéticas, ficamos sabendo que a música afeta
a Área de Wernicke, importante para o vocabulário da fala, a Área de Broca que está
relacionada à compreensão gramatical das frases, o tronco cerebral, que ajuda a
localizar o som no espaço e o cerebelo, área fundamental para a coordenação
motora que trabalha na interpretação do ritmo de uma canção. Por todas essas
relações, podemos dizer que o aprendizado musical proporciona importante
desenvolvimento na plasticidade neurológica que pode potencializar a capacidade
de aprender e relacionar conhecimentos novos.
Quanto aos aspectos sociais,
teóricos da área da educação afirmam que todos nós precisamos do outro para nos
reconhecer como nós mesmos, de forma diferenciada e autônoma. Por isso, a dimensão social é fundamental no
acolhimento do aluno aprendiz, pois trabalha com questões como identidade e
pertenciamento, essenciais no processo de aprendizagem de uma forma geral.
Especificamente no ensino da música, sabemos que os significados sociais são
construídos a partir do uso da música em determinados contextos, práticas ou
fatores associados à experiência musical e, por isso, os diversos contextos
sociais devem ser valorizados como elementos de aprendizagem.
Fazer música tem a ver com
identidade, com desenvolvimento de potencialidades, com criação e invenção, com
o encontro com o outro, com sabores de vida e de amores
O ensino de música, por ensejar
as dimensões emocional, cognitiva e social, envolve muito mais do que conhecer
a teoria da música, com todos os seus princípios e regras. A sua influência na
aprendizagem, pelo que se sabe até hoje, é sobremaneira ímpar.
Graduada em Música e Psicologia,
Mestre em Educação Musical e Doutora em Ciências da Educação, professora regente de Educação Musical do
Colégio Pedro II, Rio de Janeiro (RJ). Autora
do livro ‘Impressões Sonoras – música em
arteterapia’ (WAK editora, 2008) e do livro ‘O Bê-a-bá do Dó-ré-mi – Reflexões e Práticas sobre a educação musical
em escolas de ensino básica’ (WAK editora, 2011).
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