Para educar é preciso ouvir os sons da classe
A
união entre os campos da Educação e da Comunicação vem sendo discutida desde a
década de 70 através do jornalista e professor uruguaio, Mário Káplun. Em seu
livro “La educación para los meios” (1987), Káplun mostra que a junção destes
dois campos das ciências humanas ajuda no processo de formação do ser humano em
todos os níveis. Ele também enxergava a comunicação como difusor da educação.
No Brasil, Ismar Soares aderiu ao tema proposto por Káplun e elegeu a mediação
como sendo o ponto alto desse processo, e foi um pouco além: propôs não apenas
a transmissão, mas a transformação do ambiente.
A partir da década de 80 é que começam a surgir as primeiras editorias
de Educação, que é quando a Comunicação começa a vê-la como um campo de
intervenção. Atento a isso, no final dos anos 90, o Núcleo de Comunicação
e Educação da Universidade de São Paulo, sob a coordenação de Soares,
desenvolveu uma pesquisa junto a um grupo de 178 especialistas de doze países
da América Latina, para
ver como esses temas estavam sendo trabalhados. Descobriu-se que os doze tinham
as mesmas referências teóricas e metodológicas e que a comunicação não era
usada apenas na perspectiva funcionalista. Estava emergindo uma forma diferente
de encarar a relação comunicação-educação: era a Educomunicação.
O conceito da Educomunicação propõe a
construção de ecossistemas comunicativos abertos, dialógicos e criativos,
dentro dos espaços educativos, quebrando a hierarquia na distribuição do saber
porque reconhece que todas as pessoas envolvidas no fluxo da informação são
produtoras de conhecimento, independentemente de sua função operacional no ambiente.
Coloca-se então aprendiz e mestre no mesmo patamar para compartilhar saberes e
aprendizados. É o momento da participação. O interessante neste processo é que
a “ação” é presença constante. Além
de ler, interpretar, contextualizar e opinar, a EducomunicAÇÃO acrescenta o
fazer.
Produzir comunicação (ou aprender fazendo)
é a melhor metodologia para que o professor consiga entender o porquê de seu
estudante estar ali. Não se
pode ignorar o que é aprendido fora da escola e nem camuflar o quanto da “vida
real” é levado para dentro dela. Utilizar recursos midiáticos (jornais,
revistas, televisão, internet) nas aulas é mais que trazer o mundo para dentro
da escola, é aceitar o que existe no mundo de seu aluno.
Gosto de comparar o processo de formação educativa
com um bom espetáculo, que é construído por todos na “atuação em equipe”. É
preciso do rapaz do som, daquele que cuida das luzes, da cortina, da
bilheteria, do que organiza e limpa o local, da plateia. Daí pergunto: Você vai educar para
o mundo excluindo os personagens, tapando os olhos de seus aprendizes para as
cenas, ignorando o contrarregra e pedindo silêncio? “A educação é comunicação
na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos
interlocutores que buscam a significação dos significados”, escreveu Paulo
Freire em “Extensão ou comunicação?” (1992).
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