Como portadores de tradições culturais próprias e visões de mundo específicas, os povos indígenas no Brasil têm direitos culturais reconhecidos pela Constituição, entre eles, o direito a uma educação escolar diferenciada, que valorize suas línguas e culturas. O Iepé tem atuado na formação de professores indígenas, assessoria à construção e implantação de currículos escolares diferenciados para as escolas das aldeias e na produção de materiais didáticos – em português e nas línguas indígenas – que valorizem conhecimentos, saberes e práticas indígenas.
O Iepé atua também para o reconhecimento e valorização das
línguas e culturas indígenas, tanto por parte das próprias comunidades, quanto
da sociedade envolvente, que desconhece as concepções e práticas de
conhecimento, de transmissão e formas de expressão cultural dos povos
indígenas. O Iepé acredita que a promoção de reflexões aprofundadas das
comunidades indígenas com suas próprias tradições é o primeiro passo para
programas de valorização cultural, que promovem o estabelecimento de novos elos
entre as gerações. Neste sentido, atua na formação de pesquisadores indígenas
para a gestão de seus patrimônios culturais, o que envolve o registro e a
difusão, interna e externa de aspectos de seus conhecimentos tradicionais, bem
como o uso de novas tecnologias (escrita e audiovisual) por parte dos jovens
indígenas.
Promover a apropriação, pelos grupos indígenas, de novos
espaços em que se realizam pesquisa, sistematização, registro, documentação e
difusão de saberes e práticas culturais, como o Centro de Documentação e
Formação Wajãpi, na Terra Indígena Wajãpi, e o Museu Kuahí dos povos indígenas
do Oiapoque, também está entre as prioridades de atuação do Iepé.
“Cultura” não é um repositório de coisas do passado, mas um
movimento prospectivo rumo a um futuro mais respeitoso das diferenças
culturais.
As
ações do Iepé voltadas à formação de pesquisadores indígenas têm sido pautadas
por algumas ideias norteadoras:
•
Apropriação de uma nova noção de “cultura” – discussão
dos conceitos de cultura e de patrimônio cultural, ambos inexistentes nos
sistemas explicativos e nas lógicas próprias ao conhecimento indígena, propondo
aos índios uma reflexão sobre o que é cultura, para além de um conjunto de
traços culturais estanques.
•
Refletir sobre a diferença entre formas de transmissão – reflexão
sobre o quanto saberes e práticas culturais se transformam quando passam de
contextos informais – e também, orais – para contextos formais, onde são
apropriadas novas formas de registro e, sobretudo de representação das
manifestações culturais.
•
Valorização da língua e de categorias próprias do pensamento – respeito às
categorias próprias do pensamento indígena, com produção de registros primeiro
na língua materna. Quando há interesse em divulgar os resultados para um
público externo, se realiza um segundo trabalho, de transposição para a língua
portuguesa.
•
Valorização interna das práticas culturais – primeiro
valorizar internamente, depois selecionar o que se quer comunicar e como
comunicar e depois gerar produtos para o público externo, de modo que não seja
o mercado o orientador dos processos de valorização cultural nas aldeias.
Depoimentos:
O
Iepé está ajudando a fortalecer cultura do Wajãpi, está fazendo a formação dos
pesquisadores, pra ajudar a explicar a cultura dos Wajãpi pros brancos, pra
fortalecer a cultura nas aldeias. Porque o conhecimento não é para ficar no
livro, mas para colocar na prática, os mais velhos têm que passar o
conhecimento pros mais jovens na prática, e o Iepé defende isso, tá
fortalecendo esta ideia. Queremos que o Iepé continue fazendo assessoria pra
gente, porque os problemas nunca acabam e sempre aumentam.
Kasiripina Wajãpi,
chefe de aldeia
O curso de formação de
professores e pesquisadores que o Iepé elaborou para nós ajudou muito. Os
professores tinham muita dificuldade para planejar suas aulas e como ensinar
seus alunos. Com o curso, aprendemos a planejar nossas aulas, a pesquisar o que
foi perdido dos nossos antepassados, a falar melhor a língua portuguesa, que é
a segunda língua para nós, a buscar novos conhecimentos para dar aos nossos
alunos. Durante o curso aprendemos também sobre as leis e isso foi muito
importante para nós sabermos sobre nossos direitos. Também elaboramos os livros
na nossa língua materna e que agora estamos usando com nossos alunos.
Justino Kaxuyana
Warawaka, professor
Quando o Museu Kuahí
já estava construído, o Iepé teve uma grande preocupação em fazer com que realmente
o Museu fosse inaugurado, cobrando isso do Governo. Depois o Iepé começou a
correr atrás de capacitação para os funcionários do Museu e também sempre
contribuiu para as nossas exposições, fazendo a ponte e nos dando suporte. Se o
nosso Museu tem particularidades como o quadro de funcionários formado apenas
por indígenas, devemos isso ao nosso parceiro Iepé, sempre pronto para nos
ajudar.
Hélio Ioio Labontê,
diretor do Museu Kuahí
Fonte: Instituto Iepé
Fonte: Instituto Iepé
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